V – O espetáculo de um babaca


- Ana, Ana...
- Me deixa dormir um pouco mais...
- Levanta garota... o mundo já começou pra milhões de pessoas, sabia?
- Danem-se as pessoas... Me deixa em paz.
-Desde quando você se tornou arrogante com sua mãe?
A luz invadia meu quarto, minha mãe abriu as cortinas e a janela também... O barulho da rua e das buzinas era música para meus ouvidos... Obrigada deus bizarro pela poluição!
- Que horas são?
- Quase 9 da manhã.
Nossa! A facul... Prometi ao Bruno que iria. Levantei depressa, fui ao banheiro, lavei o rosto, me olhei no espelho e lembrei-me dele... Maurício. É inevitável não se lembrar daquele sorriso todas as manhãs... Por que você fez isso comigo? Idiota! Desgraçado! Meus olhos foram molhados por lágrimas, mas por que isso me dói tanto? Afinal é apenas mais um caso... Será que eu amo aquele idiota? Não... Claro que não amo... O que me dói é o descaso, é a naturalidade com que ele me magoa. Minhas mãos deslizaram pelo meu rosto, me perco nas lembranças daqueles beijos. Por alguns segundos viajei para os braços de Maurício, até que me lembrei da ligação de Victor... Ainda continuo me questionando... Será que foi uma boa idéia pedir algo a alguém tão arrogante? Ana! Agora não há tempo pra isso!
- Mãe, já to saindo, não me espere pro almoço, vou comer algo na facul mesmo... Ah! Não me espere nem para o jantar, acho que vou demorar.
- Ai ai ai Ana... Você precisa dar mais atenção a seu pai.
- Sim, sim... Amanhã vou passar à tarde com ele.
Fui saindo... Se eu ficasse ali mais um minuto, minha mãe não ia papar mais de falar... Ela sempre me cobra... Cobra atenção, boa notas, bom comportamento... Como se eu fosse ainda uma criança... Talvez seja assim neh? Pais nunca vêem seus filhos crescidos. Por hoje eu não vou obedecer às regras da minha mãe... Vou de moto... Preciso sentir o vento batendo no meu rosto.
Cidade... Pessoas... Marionetes da vida... A moto em alta velocidade, vento na cara, olhos atentos, pensamentos perdidos, mão firme no acelerador, os prédios passando, os carros passando, as pessoas passando... A v-i-d-a passando... Eu passando por ela. Cheguei à facul... O corredor como sempre... Gente pra todo lado... Um dia normal... Até que... Af! Hum...
-Qual foi cara? Ta achando que eu sou o que?
Dois idiotas discutindo, um era um babaca que eu nunca vi antes e outro era o carinha da cadeira... Sim, sim... O tal filósofo que tratei mau outro dia.
-Qual foi o que? Foi você que saiu da sala correndo.
Eh! Acho que preciso pedir desculpas, fui grossa sem motivos.
- O que? Tá me dizendo que eu sou o culpado?
Olha só o tipo desse outro playboy... Isso não vai ficar assim, eu não tenho sangue de barata.
- Colocando um idiota no lugar dele. - Repliquei com raiva e de pé atrás dele. Ele se virou, me olhou dos pés a cabeça... Confesso! Ele tinha um olhar lindo! Mas eu mantive a pose, caminhei e me coloquei ao lado do tal filósofo.
- Eu vi quando você esbarrou nele. – Eu continuei o encarando.
-A donzelinha precisa de defesa de uma mulher?
O clima ficou tenso entre os dois eu segurei o filósofo e o puxei pelo braço.
- Não se iguala a ele. Vem comigo!
Olhei para trás e o tal cara ainda me encarava, é claro que eu o encarei... Além de um babaca ele era lindo e tinha um olhar abrasador! Continuei puxando o outro e me afastei daqueles olhos.
- Qual o seu nome? – Perguntou o garoto.
- Ana... Ana Clara. E o seu?
- Álvaro.
- Hum! Eh! Desculpa por ter sido grossa outro dia. Eu não estava num dia legal!
Ele parou... Brecou... Ficou imóvel... Eu voltei meus olhos para os dele e perguntei.
- O que foi... Não vai me desculpar.
Álvaro segurou minha mão... E sussurrou.
- Não! Não se eu não puder elogiar seu sorriso novamente.
Eu sorri para ele... Álvaro era mesmo gentil.

IV- Uma Surpresa

Idiota! Eu aqui magoada com Maurício e tentando suicídio... Suicídio sim... Fim de carreira pedir um garoto de programa pra me amar... Acho que só eu mesma pra fazer algo tão banal... Mas ele parece arrogante e isso é o que deixa o caso interessante... Victor Arantes... Será mesmo que é capaz de se demonstrar apaixonado? Bom... Por hoje chega, estou cansada de tudo isso. Saí do PC, deitei na minha cama macia e adormeci do mesmo jeito que eu estava... Sem tomar banho e sem trocar a roupa, até que me telefone tocou, a essa hora, só pode ser o bruno.
- Alô, Milla?
Ai ai ai... É o Victor... Mas por que me ligando a essa hora?
- Oi... Quem éh?
- Sou o príncipe encantado. Agora nós chegamos assim, por um telefonema.
Af! Que cantada mais idiota!
- E quem te disse que quero você como príncipe? Ta parecendo mais uma sapo...
-Pega leve gata. Vamos começar de novo?
Caramba... Há essa hora eu aqui ouvindo asneiras.
- Não tenho tempo pra joguinhos. Vê se procura outra pra encher. Vou desligar.
Ele rapidamente retrucou.
-Milla você sabe que sou eu... Victor.
Rsrsrsrs... Realmente eu acho que não foi uma boa idéia contratar esse cara.
-Idiota. Eu já sabia que era você. Só te dei corda para saber até aonde ia sua falta de tato.
Ai! Acho que estou pegando pesado demais... Maurício, ele me deixou um tanto amarga.
-Escuta aqui garota...
-Não. Escuta você. Eu te contratei foi para parecer apaixonado por mim e não pra me ligar tarde da noite para das cantadas baratas. Se seu trabalho é assim, melhor deixarmos pra lá...
-Não. Faço questão de te conquistar. De verdade.
- Hahahaha. Desculpa, mas você é muito engraçado.
- Engraçado? Mas um adjetivo pra minha coleção. Eu prefiro ser chamado de gostoso.
Nossa! Esse cara se acha mesmo. Af! Ana você não precisa de mais um Maurício... Ou talvez seja interessante estar do outro lado da moeda.
-Victor, por favor...
-Então me encontra amanhã no Mirante do Leblon, Às 15 horas.
-Vou...
-Estar lá. Três da tarde.
Aiiiiiiiiiii... Que idiota, desligou sem eu responder... Três da tarde? Quem marca um encontro a essa hora? Caí para trás e me afoguei no meu colchão macio... Afinal eu acho que estava mesmo entrando numa fria. Ana, Ana... Tudo isso por causa de um babaca como o Maurício... Mas por que ele me magoou tanto? Por que me importei com pequenas coisas? Maurício por que você deixou marcas tão profundas? Adormeci.

Espetáculo III – Uma marionete nos corredores universitários



Volta às aulas, desci do ônibus, sentia o vapor quente do asfalto... Olhei para o campus... Tudo igual... Mais um semestre e tudo ali, no mesmo lugar... Sim, sim... Fui de ônibus... Em plena segunda feira eu encarando aquele busão lotado... Não sei por que, mas minha mãe não quer que eu vá de moto pra facul... E não faço ideia porque a obedeço... Obedecer... eh? Às vezes é legal! Hahaha.
Olhei ao longo do corredor... lá vinha ele... Bruno com uma cadeira nos ombros. A calça jeans larga, talvez era para não marcar as pernas finas e longas... rsrsrs... Uma camiseta pólo branca e é claro... um colete xadrez azul e cinza... Isso era quase uma marca registrada do “estilo Bruno de ser”.
- Novamente sem cadeiras na sala?- perguntei sem demonstrar muitos sorrisos.
-Ah! Que pergunta Ana! Acorda! Universidade pública.
Passou por mim e sumiu pelo corredor entre as pessoas. Essas... Foram minhas boas vindas à facul... Eu sei, eu sei que olhando assim o Bruninho parece irônico... Mas posso confessar? Essa é a parte que mais gosto nele... Hahaha... Poxa! Esqueci meu casaco, mas que importa se o ar condicionado da minha sala nunca funciona. Andando pelo corredor, passo a passo, passos compassados, de cabeça baixa... Olhando para meus pés, segurando nas alças da mochila. Apenas sentia as pessoas esbarrando em meus ombros... Não olhei para o rosto de nenhuma delas, não queria mesmo ver ninguém, queria apenas achar uma sala vazia e pegar minha cadeira. Olhei para minha esquerda... E pronto... Uma sala vazia e uma cadeira... Essa mesmo que vou pegar! Segurei aquele objeto estranho, seco sem vida, de uma cor pálida e débil. E segui pelo corredor, a vantagem de carregá-lo é que ele abria meu caminho.
-Quer ajuda?
Ergui a cabeça, meus cabelos ainda caídos em meus olhos, mesmo assim pude ver um sorriso tímido e um olhar gentil.
-Não precisa, minha sala é esta aqui do lado.
- Caloura?
-Eu? Imagina... Estou no sexto semestre. Eu que não me recordo de você.
- É, eu sou calouro... rsrsrsrsrs.
- Seja bem vindo! Está no curso de psicologia?
- Não não... Sou louco, mas nem tanto... Vou fazer filosofia.
-kkkkkkk... Isso sim é ser louco!
- Nossa! Que sorriso lindo!
Eu fiquei séria... Meu rosto se entristeceu...
- Desculpa... Eu disse bobagem?
- Idiota! – Respondi entre os dentes.
Segui para minha sala. Mas Ana... Porque falar assim com o garoto? Aff! Não sei... Mas me senti estranha só de imaginar... Imaginar? Sim imaginar Maurício.
Arrumei minha cadeira ao lado de Bruno, a sala ainda estava sem professor... Todos conversavam entre si e contavam as novidades das férias. Mas eu? Que novidade poderia contar? Que fui uma idiota?
-Ana... Você trouxe seu caderno de poesias?
-Não bruno? Por quê?
-Nada... Só queria ler as últimas que você escreveu?
- Ah, eu não escrevo tem um tempão... Nem desenhar estou tendo ânimo.
- Mas também pudera... Você só tem feito coisas erradas... Você perde tempo com bobagens Ana. Néh!
Eu olhei pro caderno, segurei firme a caneta e comecei a rabiscar... É claro, que as bobagens as quais Bruno se referia era Maurício.
O tempo parecia não passa, e a aula estava naturalmente chata, eu não conseguia concentrar em nada que o professor dizia. Uma sensação de raiva e dor invadia meu peito... Tinha nojo na minha carne, do meu cheiro... Do meu sorriso bondoso, do meu jeito social de ser... Nojo da minha compreensão e do meu jeito natural de me envolver com as pessoas. Ana, você é completamente idiota!
Aula terminada... Bruno e eu estávamos em silêncio. Ele apenas me observava perdida em meus pensamentos... Por vezes, ele dava um sorrisinho de canto de boca... Não sei se era pena ou se tinha um pouquinho de sarcasmo, como se dissesse: eu te avisei, agora sofra que você merece!
Saí da sala e fui imediatamente pra casa, não queria ver ninguém, não queria falar com ninguém... Não queria nada. Chequei em casa e passei direto pro quarto... Joguei minha mochila em cima da cama e sentei em frente ao PC... Queria aliviar-me, queria fugir, queria explodir o mundo. Como? Como? Porque aquele idiota fez isso comigo? Será que eu estou exagerando? Não... Não... Dói... Eu sinto essa dor... E ele? Ele apenas segue sua vida no fluxo normal, amanhã estará fazendo suas coisas cotidianas e talvez cercando outra presa por aí. Talvez eu seja exatamente como o Maurício me tratou... Talvez, eu recebi o que merecia por aceitar a situação, na qual ele me colocou.
Comecei a navegar pela net... Sem rumo... Nada específico... Nada preenchia o que sentia... Ódio, dor, saudade, solidão! No canto esquerdo da tela aparecia uma foto e piscava: “ANUNCIO! Prazer sou Victor!” Hahaha... Mais um babaca tentando se promover! Mas Ana... Pensando bem... Será? Será uma boa idéia? Veja bem... Você foi usada por Maurício... Talvez usar alguém seja interessante também... Estar do outro lado da moeda. Não hesitei mais e cliquei naquele anúncio idiota.
Prazer! Sou Victor Arantes. Dizem que eu me acho, mas eu nunca me perdi. Sei o que sou e o que quero para mim. Faço o que quero, quando quero, como eu quero e com quem eu quero. A vida é muito curta para perder tempo com lamentações, então meu lema é: Curtindo a vida antes que seja tarde demais! CARPE DIEM
 Hum... Ele é bonito! Parece um tanto arrogante. Mas pagar alguém pra estar comigo? Como eu poderia usá-lo?
Peguei meu celular... Digitei o número... Ligo? Ou não ligo? No mínimo será uma experiência interessante!
Tuuuuuuuuuh... Tuuuuh...
-Victor Arantes... Boa noite.
Nossa... Atendeu assim... Tão rápido!
-Eh... Boa noite... Victor eu vi seu anúncio... Quero contratar seu trabalho.
- Sim, pra quando é?
- Mas não quero sexo contigo.
-Como assim? Normalmente é pra isso que sou pago.
Ouvi uma risada irônica.
- E te garanto que faço muito bem- Complementou com ar de deboche.
O que você está fazendo Ana... Esse cara num vai poder dar o que você quer.
- Hum... Acho que foi um engano eu te ligar... Deixa pra lá.
-Calma aí garota! O que você quer?
-Você consegue fingir bem?
- Fingir? Ah já sei, quer me contratar pra fazer ciúmes em alguém? Claro sou bom em quase tudo nessa vida.
- Rsrsrs... Ótimo... Você vai fingir que me ama... Não precisa economizar com detalhes, eu pago!  
-Amar você? Rsrsrsrsrs...Detalhes? Como assim?
- Vamos marcar pra amanhã a noite e até lá quero que pense bem no que vai fazer... Quero que seja um cara apaixonado... Tudo o que gastar com isso eu te pago depois... Será que você é capaz de fazer isso?
Um silêncio invadiu a linha... Por alguns segundos ouvia apenas a respiração daquele homem que eu nem mesmo conhecia e que acabara de pedir pra que ele me amasse... Um garoto de programa... Pagar pra ser amada... Uma ironia do mundo capitalista.
- Eu topo! Tem preferência de lugar? Pode me falar um pouco mais de você? O que realmente quer que eu faça?
- Victor... Faça como quiser... Me surpreenda... me ame... Se apaixone... Pode me chamar de Milla. Amanhã, nesse horário eu estarei pronta... Você me liga dizendo aonde vamos.
- Tudo bem Milla... Mas vou adiantando... Guarde uma boa grana garota!
- Grana não é o problema. Até mais!
Desliguei o telefone, minhas mãos ainda estavam tremulas... Afinal eu nem conhecia esse cara. Mas Ana... Tudo isso será apenas um teatro... Você está pagando...  E ele será a marionete da vez.

Espetáculo II- Cômico ou Trágico?




Nem acredito que tem uma semana que o Maurício não me liga... Bruno cansou de me avisar pra eu sair fora... Mas não consigo parar de pensar nele, no beijo, no sorriso, no olhar... Uma perfeição divina... Meu coração sente um aperto sempre que penso nele, uma sensação de perda que invade meu ser, mas perder o que? Se nunca foi meu. Queria que pelo menos uma vez, eu pudesse gritar: isso aqui é meu, está no meu domínio. Mas não posso, ele apenas me usou, como se usa uma meia, no segundo dia ela já parece fedida e não serve mais. Meu celular nunca ficou descarregado, sempre com torre, esperando qualquer movimento que me diga onde e quando Maurício quer me ver. Ele foi sincero, disse que tinha namorada... Isso me faz sentir especial. Estou no páreo... Estou ganhando. Talvez se eu tivesse sido um pouco mais ousada no primeiro encontro, ele tinha me ligado. Sei que homens adoram essas coisas... Mas às vezes me sinto travada, como se meu corpo não tivesse poder algum sobre minhas atitudes. Isso dificulta minha linha de pensamento: Que os homens querem mulheres assim... Ingênuas à sociedades e ousada na cama. Sim... Eles querem mesmo esse tipo. Eu sou o que sou, cada dia um pouco mais de mim se vai, eu me modifico, me atrapalho, me enfeito com um novo rótulo... Tudo isso pra provar que sou eu mesma, talvez o ser humano seja assim neh... Inconstante, mutável e pacífico ao erro.
        Preciso me recompor e aceitar que ele não vai ligar:
Tuhhh tuhhh...
Meu Celular tocando... Nossa é o Maurício... Será que atendo? Não posso transparecer que estava esperando... Mas quem liga? E se minha oportunidade passar... E se eu perder esse homem?
- alô
-Ana?
-Sim? Maurício?
-Sim Ana... Como vai linda?
-Vou bem e você?
-Estou com saudade de ti, saudade dos teus beijos.
-A é?
-Claro, e porque não sentiria falta de uma boca tão gostosa como a sua? Quero continuar de onde paramos Ana.
-Mas e sua namorada?
- Alice? O que que tem Ana? Você não vai ser careta agora neh?
-Imagina... Só não quero te dar transtorno.
- Ana, hoje às 20 horas... Te espero em frente a seu condomínio...
- Ok Maurício.
Nossa, vou vê-lo... Ele, ele... Mas por que não me ligou antes? Que importa neh, me ligou agora e quer me ver, isso prova que sou importante. Hahaha... Ana... Como você pode se contentar com tão pouco... Acha mesmo que ele se importa contigo? Ele só quer curtir, e pra isso você serve. Nossa! Que cruel pensar assim? Se ele não sente nada por mim, também não posso dizer que ele sente amor por ela, por Alice... Não... Se ele a amasse não a trairia. Mas quem sabe ele me escolhe? Veja que sou muito mais interessante que ela. Meu coração se sente apertado quando penso nisso... Estranho... Me sinto um “nada”. Mas, por que mesmo assim não paro de pensar nele, porque não ligo agora mesmo dizendo que não vou? Ou melhor, pra que ligar... Basta simplesmente eu não descer o elevador às 20 horas.
Sentei em frente ao PC... A internet estava sem vida pra mim, nem o MSN tinha graça... Não tinha cabeça pra pensar em mais nada além de Maurício. Twittei:
“Pensar em você me faz sofrer... será que você não percebe isso?”
Em menos de um minuto me responderam:
Isso porque você sempre pensa na pessoa errada”
Era o Bruno... rsrsrs... Meu amigo... Me conhece mais que eu mesma... Talvez ele tenha razão... Eu sempre penso nas pessoas erradas... Mas como saber quem é a certa? Ninguém tem selo de qualidade neh... Mas dessa vez eu extrapolei... Estava escrava de um sentimento tolo... Sem sentido pra Maurício... E o pior de tudo... Eu nem podia culpá-lo por isso... Ele não me pediu nada e não escondeu Alice de mim.
19 horas e eu fui tomar banho... Debaixo do chuveiro a água descia lentamente pelo meu corpo... Água gelada... Pra espantar os monstros. Pensei em que roupa usar, hoje quero estar fatal, quero que ele olhe pra mim e veja tudo o que ele pode ter ou perder. Acho que aquela calça jeans que comprei no mês passado... Sim... Vai ficar legal, agora que perdi uns quilinhos... Hum... Blusa... Acho que vou de preto de novo... Eu adoro preto... E pra complementar vou usar os brincos de argolas que ganhei de minha mãe. Demorei uns 20 minutos na frente do ventilador... Pra secar meu cabelo, justo hoje meu secador não quis funcionar... xiii... Não gosto desses sinais de azar! Hehehe... Até parece que sou supersticiosa. Exatamente às 19h50min eu já estava pronta e olhava todo minuto pela janela, queria ver o carro dele chegando antes de descer... Ai Maurício... Por que justo eu? Por que só eu passo por isso? Será que sou idiota demais?
É ele... Desci depressa... Minha mãe tentou perguntar umas coisas, mas eu não dei ouvido, apenas desci e só ouvi um grito dela pedindo pra eu não chegar depois da meia noite. Mãe acorda... Quem sai com um gato desses e chega cedo em casa? Hahaha... Estou animada, posso dizer que talvez feliz... Afinal eu ia estar com ele... E naquele momento ele seria inteiramente meu! De longe eu já o avistei saindo do carro, e como de costume, lançou o mesmo sorriso lindo.
- E aí Ana? Boa noite!
- Oi garoto! Você é sempre pontual assim?
-Nem sempre... Só para as coisas que realmente me interessam.
-Nossa! E tem sempre essas frases feitas na manga pra conquistar meninas inocentes como eu?
-Frases feitas não Ana, Apenas sei o que quero!
-Sério? E o que você quer?
-Passar a noite inteirinha com você.
Ele me puxou e antes que eu dissesse algo me beijou. Entramos no carro, passeávamos pelas ruas, rindo e brincando, ouvindo música, tudo perfeito, já nem me lembrava de Alice, me sentia única e necessária... Hahaha... Doce ilusão que durou pouco. Em menos de uma hora que estávamos juntos o celular dele tocou... Era uma mensagem... Eu não sabia ao certo quem era. Ele pegou o celular e olhou, deu um sorrisinho e respondeu a mensagem. Meu sorriso desapareceu, fui invadida pelo vazio. Será que ela Alice? Ele pareceu feliz com a mensagem. Relevei... Tentei fingir... Tentei ser natural... Continuei conversando.
- Vamos para o Jôfe?-Ele me perguntou.
Jôfe é um barzinho famoso... Sempre tem muita gente e música ao vivo. Bom! Se ele quer ir até esse bar é porque não tem vergonha de me exibir por aí.
- Claro! Ótimo lugar.
Ele estacionou o carro uma quadra antes do bar. Saímos e fomos andando até as mesas... Ele não segurou minha mão... Mas não me importo... Natural, neh Ana? Sentamos e conversamos um pouco mais... Nossa! Como era agradável estar com ele... Gostávamos de muitas coisas em comum. Tudo ia bem até que o celular dele tocou mais uma vez. Que inferno! Só pode ser ela! Novamente ele deu um sorrisinho e respondeu a mensagem. Eu não consegui disfarçar minha irritação. Ele percebeu. Mas também, o que posso fazer? Não posso negar... Não posso negar que fiquei abalada com isso! Será que ele não imagina o quanto isso me magoa? Mas não posso ter certeza se é realmente ela. Olhando para meu rosto que não sorria mais, ele disse:
- Tenso...
- Tenso não! Se não fosse cômico seria trágico, pena que a palhaça... Sou eu!
Ele não disse mais nada sobre isso, mudou de assunto e agiu normalmente, isso prova que ele tem consciência do quanto isso me chateou. Pouco tempo depois um colega dele chegou até nossa mesa e nos cumprimentou. Ele me apresentou como uma amiga.
- Mas me diga Maurício... Como vai Alice?- perguntou o colega.
- Tudo bem... Mais linda que nunca! Hahaha
- Você é um cara de sorte! Mas e sua amiga... Já teve o prazer de conhecê-la?
- Não... Ainda não, mas em breve vou apresentá-la, neh Ana?
- Sim, não vejo a hora.
Caralho! Será que ele descobriu isso sozinho? Ou eu tenho um selo na testa, escrito: IDIOTA? E esse garoto? Qual é a dele? Por que ta aqui perguntando da outra, não percebeu ainda a situação? Eu sentia meu corpo tremulo, era raiva? Era tristeza? Não sei... Acho que um pouco de tudo... Era mágoa. Era sensação de pouco, de pequena. Com meu ego ferido eu ainda sorria e apresentava naturalidade. Mas Maurício percebeu que algo estava errado comigo. O colega dele saiu. Eu olhava fitamente para Maurício. Queria gritar, queria xingar aquele filho da puta! Mas não podia! Esse sentimento era só meu. Maurício não poderia entender o que eu sentia.
- Ana... Vamos dar mais uma volta?
- Sim vamos.
Voltamos para o carro, agora sim ele segurou minha mão, me beijou mais um pouco, ligou o carro e saímos.
- Ana... Não quer ir pra outro lugar comigo?
- Hum... Tipo?
- Dorme comigo hoje Ana?
Sinceramente... Minhas pernas ficaram bambas... Sei que não é essa frase que ele quis me dizer, traduzindo: ”Vamos transar?” Eu brequei meus pensamentos... Respirei e disse:
-Tem idéia de onde faríamos isso?
-Você pode escolher o hotel ou motel, se preferir?
-Você que sabe, não conheço muitos.
Dei um sorrisinho meio sem graça... Estava constrangida, triste e afoita... Tudo ao mesmo tempo... Misturado... Assim... Do jeito Ana de ser.
Fomos para um hotel... Próximo a minha casa... Ele pediu um quarto de casal... É claro neh... O quarto era muito bonito, paredes salmão, cama grande, lençóis de seda azul, colchão macio, frigobar com bebidas, toalhas brancas e bem fofinhas, banheiro confortável com banheira... Sim... Ele não economizou... Assim que a porta fechou, ele segurou em minha cintura e sussurrou em meu ouvido:
-Em fim... Sós.
Meu corpo arrepiou, só de sentir o hálito quente que saía de sua boca. Suas mãos deslizando intensamente pelas minhas costas, minha boca sendo sufocada pelos lábios macios de Maurício. Me jogou na cama... me envolveu... Me despiu... Despertou meus instintos... Me deu prazer.
Depois de algumas horas... Ainda despidos... Deitamos... Cansados... rsrsrsrs... Ele abriu o braço, acomodei meu corpo junto ao dele... Ele adormeceu. Minha mente não parava de pensar... Fiquei acordada por horas... Estava feliz... Estava triste. Mais uma vez... O celular de Maurício tocou... Outra mensagem. Pensei em não ler... Mas, esconder a verdade de mim mesma poderia ser ainda mais doloroso. Decidi ler:
“Amor... cheguei bem... já estou na casa do meu pai. Voltarei em breve bebê.” (Alice)
Então... É por isso que ele veio dormir comigo... Ela não está na cidade. Vou ler as outras, será que era ela incomodando a gente o tempo todo?
“Bebê, não sei quanto tempo vou ficar sem você... não me esquece viu?” (Alice)
“Esquecer você? Jamais... você é a mulher da minha vida” (Maurício)
“O que ta fazendo agora amor? Você está demorando responder minhas mensagens” (Alice)
“Estou numa reunião chata... você sabe neh bebê, não posso deixar meu pai na mão. Ele confia em mim.” (Maurício)
Ah! Claro... Agora eu virei uma reunião chata.
“Ta bem... eu sei... assim que eu chegar, te aviso. Me liga amanhã? Boa noite. Te amo!” ( Alice)
“Boa noite bebê, amanhã te ligo sim, também te amo!” (Maurício)
Não consigo entender... Ali comigo... Na minha frente... E dizendo essas coisas pra outra? Deve estar de brincadeira. Olhei bem para o rosto de Maurício... Dormia... Jeitinho sensível e inocente... Mas era um demônio que estava ali... Um demônio que não podia sentir o peito sufocado, as mãos frias, o nó na garganta, a sensação de impotência e solidão, de fraqueza e de medo, de insuficiência e inferioridade. Sim... Quem sentia isso era eu... Apenas eu!

Espetáculo incial - "Não era carne, era pedra"

Olhando assim para o céu, ele parece sempre igual... Azul, limpo, puro... As nuvens nas mais diversas formas... Alguns pássaros voando... Ah! O mundo gira... O tempo passa... A vida continua... Um dia após outro... E eu? Eu sou apenas eu... Na minha essência, apenas humana... E ser humana é muito bom! Meu rosto queima com o vento, não tenho medo de altura, mas confesso que quando olho para baixo, um frio invade meu estômago. Nossa! Estou viva! Sempre penso isso quando estou aqui em cima. A sensação de liberdade e de euforia consome meu ser... Tão profundo quanto respirar... Necessário. Posso imaginar loucuras aqui em cima... Pular... Me jogar... Sentir a gravidade contra meu corpo... Sentir o sopro ofegante da morte! Ah! Nossa! Quase que mágico. Mas eu amo a vida! E viver é morrer todos os dias... Morte e vida sempre tão próximas. O perfume da cidade. A poluição não me incomoda, pelo contrario... Eu gosto... Que cheiro bom... Cheiro de vida... a humanidade camuflada entre cimentos e ferros, fumaça e carros... rsrsrs... Não tem nada mais prazeroso do que estar viva pra ver isso. Ainda que de olhos fechados... Posso imaginar toda a podridão dessa cidade... O sofrimento de milhares de pessoas nesse momento... O universo me sugou em apenas um trago... E por falar em trago... Já tem mais de uma hora que não fumo...
- Ana... Ana... Ana! Você tá me ouvindo? Ana... Dá pra você sair daí? Ana!
- Ai! Ai meu braço... Precisa me puxar?
- Ow! Desculpa! Só fiquei com medo... Olha onde você ta sentada Ana?
- Ai Bruno... Às vezes te acho careta! Libera geral cara! Vive os limites da vida.
- Aninha... O problemático aqui não sou eu... É você... Sua louca.
Ele me deu um abraço fraternal e doce. Eu sei... Eu sei... Que por vezes extrapolo... Mas como diz Cazuza: “faz parte do meu show”. E em matéria de show... Eu me garanto! Rsrsrsrs. Descemos pelo elevador... Estávamos no topo do prédio, 55° andar. O síndico me deixava subir até lá sempre... Moro do apartamento 333... No 25°. Posso dizer que os vizinhos são tranqüilos... ah! E alguns, é uma graça! Rsrsrs... O Bruninho é um deles... Meu melhor amigo... Careta, chato... Ta sempre me cobrando, mas fazer o que neh? Eu gosto! Do corredor eu já podia sentir o cheirinho do bolo de milho de minha mãe... e assim que ela me viu, logo me cobrou.
- Ana... Não quero que falte a aula de piano.
- Tá. Nossa que bolo gostoso!
- Você não toma jeito... Primeiro violão, depois flauta, e agora piano. Quanta coisa mais vai começar e não levar até o fim?
-oh mãezinha... Eu não tenho culpa... O violão dói meus dedos, a flauta... Não consigo soprar... Mas o piano... Hum... Estou adorando! Só que vou logo avisando que hoje não posso ir.
Levantei subitamente e fui para o quarto, antes que minha mãe prorrogasse ainda mais o sermão. Joguei-me na cama... Macia... Lençóis de algodão... Colchão que me abraça... Olhando para o teto negro como a noite... Pensei nele...  e senti um vazio... Como se existisse uma lacuna aberta entre minhas entranhas... Sensação de medo e pavor... Alcancei o telefone, digitei lentamente o número proibido... Apaguei... Não, não posso dar esse mole! Se controla Ana! Deixa-o ligar pra você! Rsrsrs... Eu sempre dou gargalhada quando faço isso...  Quer saber? Às vezes não entendo... Se amo, não posso demonstrar, porque se ele perceber que estou tão assim afim... Normalmente os homens caem fora. Que estranho e louco isso! Aí se desprezo se trato mau ou ignoro... Aí sim... Eles me procuram. Queria ser livre... Falar e pensar o que quiser o que vier a cabeça... Queria ser louca de verdade... Se eu fosse mesmo maluca eu ligaria agora...
“Tuuuuuhhh tuuhhhh tuhhhh ... este número encontra-se desligado ou fora da área de cobertura.”
  Droga... Quando tomo coragem... Já sei, vou ligar pro fixo... Aí se ele estiver em casa... Saberei.
Tuuhh... tuhh...
-Alô.
-Alô, gostaria de falar com o Maurício.
- Sou eu... Ana!
Nossa... Ele se lembra da minha voz? Oba! To bem! Rsrs.
- Então... É que... Eu só liguei pra...
- Quero te ver! Estou com saudade!
- Sim... Quer dizer... Não...
- Hã? Você não quer me ver Ana?
- Nuss... Não é isso... Rsrsrs...
- Ana... Hoje às 20 horas no café club, Ok?
- Ok.
Desliguei. Meu coração palpitava, talvez hoje fosse o dia certo pra jogar na loteria... Rsrsrsrs... Só sei que eu estarei lá... Pra ter o prazer de vê-lo novamente.
Nossa! Eu ia me esquecendo... Bruninho foi embora com meu caderno de desenhos. Hoje estou avoada... Completamente estranha, preciso respirar um pouco de fumaça... Vou sair... ir ao shopping? Ao cinema? A aula de piano? Não... Isso é pouco pra mim... Hoje quero mais que isso. Para o metro... Isso... Um bom lugar. Levantei, coloquei aquela calça jeans mais velha do meu guarda roupa, tênis, meias listradas, uma camiseta preta, minha preferida, ganhei do bruno quando ainda estudávamos no ensino médio. Peguei as chaves da moto... Minha mãe estava assistindo a novela da tarde... Saí de fininho... Quase que ganho outro sermão.
Cheguei ao metrô, meu banco estava livre, Ufa! Que bom... Sentei... Respirei fundo... Ai ai ai... Que lindo este lugar! Gente! Muita gente! Pessoas indo e vindo o tempo todo, umas falando ao celular, outras andando depressa e ainda aquelas que parecem perdidas. Eu fiz o que sempre faço, apanhei minha cadernetinha que comecei a anotar tudo o que eu via. Confesso que algumas anotações são bizarras. O ser humano e suas multifaces... Irônicos... Sensíveis... Malvados... Bons... Na verdade, acredito na mentira de sermos mais verdadeiros que nós mesmos... Hipócritas! Rsrsrs... E eu sempre me incluo nisso que digo. Eu adoro ser assim... Parece que o mundo não tem tempo pra mim... as vezes me deixa de lado... Me faz girar anti-horário... Vejam bem aquela mulher... Uma loira de aproximadamente 1,70, bonita, pele clara, olhos caramelos, sobretudo de couro, sapatos fechados e meias pretas, uma bolsa esporte que não combina nada nada com o figurino... o que será que ela está pensando agora... Ela passa a mão nos cabelos, abre e fecha a bolsa todo minuto... Olha pro celular como se tivesse aflita... Será que espera alguém? Está atrasada? Não sei... Pessoas... Apenas pessoas...
Ufa! Vou pra casa, não quero me atrasar pra ver o Maurício... Nossa, com que roupa vou? E por falar nisso estou precisando comprar umas coisinhas, mas é tão chato ficar andando de loja em loja procurando as coisas, se o mundo capitalista dependesse de mim pra ser feliz... Nossa! Ele seria eternamente triste. Hahaha... Mas voltando a falar do Maurício... Meu peito arde quando penso nele... E pensar que só o conheço a uma semana... Mas parece um ano... Bem que às vezes penso que as horas passam diferentes pra mim... O Bruno sempre me reprime, diz que preciso ser mais consciente, mais lenta... Acho graça quando ele grita: ”breca o freio Ana! Tira o pé do acelerador... você pode morrer na curva”! Sim... Às vezes eu penso isso que a vida vai me matar a qualquer hora... Só consigo viver as coisas a 300 km/h... Isso me assusta. E por falar em velocidade... Ana você está muito envenenada nessa moto...
Cheguei em casa... Minha mãe continua na TV, um vício pelo qual não tenho prazer... Odeio esses programas medíocres... pra viver hipocrisia... vivo a realidade...tomei banho... no guarda-roupa, um vazio.... sim... acho que a maioria das minhas roupas estavam sujas, o que me restou foi um shorts jeans e uma blusa preta... mas essa parecia decotada demais, não quero que Maurício me ache abusada... Quero que ele pense que sou uma garota ingênua... Homens gostam disso. Tity, afirma que os homens têm medo de mulheres auto-suficientes... rsrsrs... Aquela louca... Não sei como conseguiu pegar o Vitor... nuss, ele é muito lindo. No pé... Hum... Acho que essa sandália vermelha... É sexy... hahaha... Brincos, maquiagem... Batom? Não... Só um brilho pra realçar. Bolsa? Hum! Acho que essa aqui, nossa... Meu sapateiro está bagunçado também. Rsrsrs... Pronto! Estou pronta... Faltam 20 minutos pras 20 horas, vou indo... Não quero chegar atrasada, mas também não quero chegar antes dele, não posso demonstrar que estou ansiosa. Abri a porta do Ap. e dei de cara com Bruno:
-Oi garoto!
-Aonde a senhorita vai? Vim trazer seu caderno.
-Vou ao café, você pode deixar lá no meu quarto?
-Vai com quem, heim Ana?
-Tem horas que penso que você é meu pai, sabia? Nada demais só vou tomar um café com o Maurício.
-Hahaha... Aquele que você conheceu no clube?
- sim, por quê?
-Ana, dizem que ele não presta, é um galinha!
-Pára Bruno, já vem por coisas na minha cabeça... Eu não quero namorar ele... Só uns beijinhos... Seu bobo!
- Ah! Nem vou perder mais meu tempo com você Ana! Vá!
-Beijo gatinho e até amanhã.
Beijei Bruno, senti que ele me abraçou forte, eu sabia que ele não gostava desses meus encontros improváveis, mas eu não ligo, a vida é assim neh, feita pra se viver... Um dia, estamos bem e no outro mau, mas bom é saber que tudo passa e que em breve estaremos bem de novo... Os sofrimentos são basicamente os mesmo... Sempre... Só muda os atores, mas a peça... Essa se repete todos os dias... A vida é um grande palco... Eu sou a atriz principal... E hoje Maurício vai saber o quanto é bom estar no meu show. Rsrsrsrs.
Avistei a mesa... Lá estava ele... Camiseta básica branca, calça jeans, tênis azul, cabelos pretos e arrepiados... Mas tá na moda neh... Com os braços cruzados em cima da mesa, parecia tranqüilo, esperava... Me esperava! Sim... Aquele homem estava ali por mim... Fui me aproximando e fui surpreendida por um olhar fatal... Um sorriso conquistador... Mauricio... Com isso você dificulta meu raciocínio... Rsrsrsrs.
-Olá Ana!
-Oi, desculpa o atraso.
-Imagina, chegou bem na hora.
Ele levantou, e com o mesmo sorriso abrasador me abraçou e me deu um beijinho na bochecha esquerda, sua barba roçou lentamente no meu rosto e um arrepio tomou conta do meu corpo... Eu sorri gentilmente e sentei. Barba... Eu amo homens de barba... Nossa como dei sorte! Hahaha.
-Ana, o que vai beber?
-Hum... Acho que um café com chantili.
- Então, moça dois... Com chantili.
A garçonete saiu, mas antes eu bem que vi ela dando uma secada no meu homem.
- E aí Ana... O que anda fazendo por esses dias?
- ah... Estou tranqüila... De férias da faculdade... Aí fico inventando coisas pra fazer. E você?
- Eu estou bem cheio de trabalho... Meu pai viajou e fiquei com um monte de coisas da empresa pra resolver.
- Poxa! Que chato...
- Até que eu gosto... Trabalhar é bom. Mas me diga, faz faculdade de que mesmo?
-faço psicologia.
- Nossa que legal... Acho que estou precisando de uma consulta com a psicóloga mais linda que conheço.
Ele segurou minha mão... Que rápido... Que decidido... Gostei... Mantive a mão embaixo da dele.
- Claro, talvez eu não resolva todos seus problemas, mas boa parte deles.
Fui decidida também, me demonstrei segura de si... Mas sem perder o olhar frágil e a voz doce... Ele lançou mais um de seus sorrisos, inclinou o corpo pra frente, ficando bem próximo a mim, me olhou nos olhos, passou a mão levemente em meu rosto e disse:
-Ana, você é meu único problema no momento.
Ai ai ai... Quase morri com essa frase... Será que sou eu mesmo... Ana? Rsrsrsrsrs... Mantive a calma... Não queria que ele visse o quanto estava empolgada. Apenas sorri de mancinho e respondi.
- Não costumo ser problema, sou sempre solução.
Ele puxou minha cadeira pra mais perto da dele, e naquele segundo... Meu coração palpitou mais forte... Colocou novamente a mão no meu rosto deslizando para minha nuca... Senti meus olhos fechando lentamente e meus lábios sendo molhados pela boca dele. No café... Com muita gente por perto... Depois de apenas meia dúzia de frases trocadas eu tinha me entregado aquele beijo... Não acredito... Fui fácil demais... Mas agora não quero pensar nisso.
-Você beija muito bem. - disse Maurício.
- Ah é? Então me beija mais.
Muitos beijos... Tomamos o café... Beijamos mais... Ao redor muitas mesas cheias, acho que as pessoas pensavam que estávamos loucos... Afinal ali era um local de “família”... Eu, não nos classifico como loucos... E sim como alma gêmea... Que beijo mais perfeito... Depois fomos pro estacionamento, tentávamos nos despedir... Mas soltar aquela boca era quase que uma tortura. Entramos no carro dele, uma musica ambiente... Para o momento ele colocou Capital Inicial... Eu me amarro nas músicas dos caras... Então... Tudo ficou ainda mais perfeito.
- Ana... Tenho que ir ao banheiro... Me espera aqui.
- sim... Tudo bem.
Ele saiu do carro, eu fiquei lá... Sorrindo a toa... Nossa como achei um cara desses... Ana? Você é foda! Xiii... Telefone tocando... Não é o meu... Ah sim... É do Maurício... Mensagem pra ele... Nossa que vontade de ler... Mas isso é feio... Ah quem liga... hahaha.
“Amor, não demora, eu já estou na sua casa”
Hum... Bem que Bruno me disse que ele é galinha... Alice? Hum... Não sei quem é... Ele deve tá pegando essa também... Mas vou ficar no páreo... Não tenho medo da concorrência. Vou apagar a mensagem... E prender ele um tempo mais. Sim, sim... Vai ficar esperando, Alice!
-Demorei?
-Nada...
Entrou no carro e nos beijávamos como loucos... Intensos e calorosos me tiravam o fôlego... O telefone dele começou a tocar... Ele não atendeu... Tocou outra vez... E eu logo imaginei que poderia ser Alice... Então beijava com mais prazer... Não queria deixá-lo atender. Mas aquela porra, insistia... Ele atendeu.
“-Oi amor... já estou indo... não... vim no mercado... claro amor... levo sim... qual sabor? Tá.Beijo!”
- Desculpa Ana, mas tive que atender.
Fiquei perplexa... Eu tinha mesmo ouvido isso, ou era coisas na minha cabeça? Quanta frieza... O que eu faço?
- Ana...
A voz dele me chamando, eu imóvel... Precisava reagir, não podia sair por baixo nessa situação, mostrar que eu me importo é humilhação.
-sim... Tudo bem.
-Você ficou chateada? Era Alice, minha namorada... Não te disse nada Ana, porque não sei se você se importa com isso.
Rsrsrs... Ele só pode estar de brincadeira... Se me importo... Imagina... Aff! O que ele ta pensando que sou? Porra! Mas não vou dizer nada.
- Não... Por que me importaria?
- Foi o que pensei.
Ele sorriu e me beijou novamente, agora parecia que em sua boca tinha fel... Me senti um lixo... Uma qualquer... Mas beijei assim mesmo... Fingi que nada aconteceu e disse:
-hum... Se você não estivesse com pressa... Poderíamos ir pra outro lugar.
- Tipo... Mais a vontade?
Nossa... Que estou fazendo... Ana? O cara acabou de atender a namorada na sua frente... Acha que você é qualquer uma... E porque age como se realmente fosse?
- sim...
- Não posso hoje querida... Mas te ligo em breve, pode ser?
- sim. Claro... Estarei esperando!
Saí do carro, coloquei o capacete, vi o carro ir embora... Ele indo pros braços da outra... Na verdade ele estava indo pros braços da namorada, eu que era a outra, da mais baixa qualidade... Liguei o motor... Acelerei na velocidade do meu coração... Uma lagrima caiu, descia pela face... Usada... Apenas usada... Sim... Por que, às vezes, permito essas coisas bizarras acontecer comigo? Você é mesmo uma idiota Ana.